Sobre o Livro “Madrugada” pelo Professor Catedrático Vitor Pena Viçoso
No livro “ MADRUGADA” os textos revelam uma intencionalidade de traçar um caminho entre a busca ensimesmada e abissal de uma identidade feminina, no quadro de uma clausura burguesa hiperbolizada, e a revelação de um eu que se complementa pela sua projecção numa voz coral, simultaneamente superadora das contradições intimistas e de uma sociedade iníqua na qual não havia lugar para a fraternidade. O eu participaria então de uma vocação comunitária que passaria a dar um novo sentido à sua existência enquanto mulher e cidadã. Logo no primeiro poema da obra, datado de 1947, projecta-se uma espécie de autobiografia imaginária que tem como interlocutora virtual a mãe e que atravessa diferentes fases da sua vida (a infância, a adolescência, a juventude com a sua rebeldia e o período da maturidade). Há como que um tom confessional depurado, onde sobressai um tempo dominado pela solidão, pela clausura e pela ausência de diálogo com os pais.
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